Se eu
pintasse a pintura perfeita... Não só nela se veria o harmonioso
céu azul como plano de fundo em minha tela, destituído de qualquer
fumaça tóxica, mas sim, nela estariam impressos os saudosos raios
de sol, invisíveis a minha aquarela, porém os mesmo raios de sol
que iluminam os traços da minha pintura.
Se eu
pintasse a pintura perfeita... Não só nela se veria a imponente
montanha verde, erguendo-se altiva em divida com o céu azul, sem
qualquer vestígio de queimadas em meio à vegetação, mas sim,
gostaria de registrar com a minha aquarela os inquietos ribeirões
descendo incessavelmente sob a mata fechada até repousarem serenos
em seus próprios leitos, insistentemente inalcançáveis.
Se eu
pintasse a pintura perfeita...Não só nela se veriam as pequenas e
tortas casinhas de madeira, formando uma camada extra sobre a
montanha, pendentes em seus próprios alicerces, agora tão cheias de
cupins quanto um dia foram de sonhos, mas sim, gostaria de registrar
com a minha aquarela todas as histórias que a casa teria para me
contar, de todas as vezes que seu solo abrigou e suas paredes deram
segurança aqueles que fugiam das intempéries do tempo.
Mas se eu
realmente pintasse a pintura perfeita, não só a figura daquelas
pessoas apressadas que passavam diariamente em frente às casinhas
estariam registradas em minha obra. Eu, enquanto pintor, poderia
facilmente captar suas expressões e eternizá-las em minha pintura:
cada sorriso, cada choro, cada testa franzida. Mas o que eu não
poderia jamais transcrever em minha tela seriam os reais motivos de
estarem sorrindo, de estarem chorando ou de estarem com as testas
franzidas. Nem seus motivos, nem suas ideias. Nem seus propósitos ou
seus ideais, nem seus conflitos ou aflições, nem seus medos ou
desejos mais profundos, pois este
poder... a minha
aquarela não tem.
Este é um intertexto produzido pelo aluno Gabriel Henrique de
Castro Ricardo, da 2ª III do Ensino Médio nas aulas de Língua
Portuguesa, com base em dois textos da poeta Cecília Meireles: “Se
eu fosse um pintor” e “Dias Perfeitos”.
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